<$BlogRSDUrl$>

sexta-feira, março 05, 2004

Subjectivo 

«Para o CDS-PP, que na discussão de ontem se fez representar pelo deputado Miguel Paiva, a importância do clitóris é, conforme o próprio disse ao PÚBLICO, "algo subjectiva". O deputado reconhece que tem uma função essencial no prazer sexual mas "para além disso a sua mutilação não afecta nenhuma função vital", nomeadamente, como sublinha, "a função reprodutiva".»

Retira-se do «Público» este fragmento, que serve de ilustração clara do estado das discussões parlamentares. Quer o CDS/PP criminalizar autonomamente a mutilação genital feminina e perde-se em dúvidas sobre se o clitóris é um «órgão», um «membro» ou um avião ou o Super-Homem, com base na sua leitura do artigo 144.º do Código Penal.
Diga-se desde já que qualquer mutilação, incluindo a genital e a feminina, está naturalmente já hoje criminalizada. Mas parece que não chega e quer-se por na lei a protecção em especial devida ao clitóris. Com todo o respeito por este órgão/membro, parece-me desnecessário, face às previsões legais em vigor. As leis fizeram-se também para evitar este tipo de casuísmo e quaisquer particularismos indevidos. Hoje à tarde, é suposto o parlamento discutir a natureza do clitóris. Louvem-se as intenções, naturalmente... Mas somos tão legalistas, tão legalistas, que o bom senso e lógica às vezes parecem ficar ali ao fundo, já um pouco antes de Badajoz... Quer-se resolver um problema? Venha a lei! A lei cria mais outro problema? Venha nova lei e venha também portaria e decreto e despacho!... Mutilando o Woody Allen, "quem sabe, resolve os problemas; quem não sabe, faz leis". MR

cinco canções americanas para Março (e talvez para a vida inteira) 

- “I See Monsters”, de Ryan Adams.
- “Umbilical Town”, de Gary Jules.
- “Each Time I Bring It Up It Seems To Bring You Down”, dos Lambchop.
- “Bermuda Highway”, dos My Morning Jacket.
- “The Evening Of My Best Day”, de Rickie Lee Jones. NCS

quarta-feira, março 03, 2004

Sobre a instalação de um telefone fixo 

Era nas tardes de domingo, com o som dos relatos ao fundo, que conversávamos. Durante horas pai e filho discutiam os temas da semana – aquilo que vinha nos jornais, a queda de um ministro, alguma política regional. A partir do momento em que o telefone – um daqueles velhos aparelhos negros com um disco ao meio – tocava, ali pelas 16h, abandonava a meu fim-de-semana melancólico e indolente de estudante de Direito contrariado para ficar sentado na alcatifa, discutindo com o meu pai as contingências da actualidade e ouvindo, aqui e ali, o eco das nossas vozes sobrevoando o oceano. Aconteceu depois algo pouco memorável: o telemóvel livrou-nos dessa feliz obrigação. Continuamos a telefonar-nos amiúde mas agora somos cerimoniosos na abordagem – temos sempre medo de estarmos a interromper algum compromisso relevante. Hoje falamos menos por causa do crédito e para não sermos considerados anti-sociais. Não, não sinto nostalgia pelo telefone negro e pelo seu disco emperrado – há por aí máquinas esteticamente mais apetecíveis e de manejo mais eficiente. A questão é apenas esta: quero voltar ao melhor daqueles domingos. Quero continuar a resolver os problemas do mundo com o meu pai de uma forma demorada, preguiçosa. Percebi-o nestes dias de gelo: o combate à distância deve evitar ter problemas de rede. NCS

terça-feira, março 02, 2004

Mais ou menos, o centésimo post 

Terminei, mesmo há pouco, uma viagem pela história do Desejo Casar, com particular atenção àquilo que eu próprio tenho vindo a escrever aqui desde o princípio de Junho de 2003, e confesso que tive algumas surpresas.
Em primeiro lugar, pela minha desnorteada contagem, este será, mais ou menos, o meu centésimo post. Não sei se é muito ou pouco, mas pensava que havia produzido mais. Por outro lado, o mais importante, pensava que tinha escrito melhor, mas esse já é outro problema. Escrevi muito mais sobre política do que imaginava e muitas vezes acorrentei-me aos acontecimentos da actualidade. Fui, também, mais agressivo do que alguma vez me pensei. E tive constantes desabafos e quedas na sinceridade, como quem, ainda que inconscientemente, se tenta desculpar pelo quanto vinha sendo diferente do que, até então, se acreditava.
Vi, quando olhava à volta, as apresentações e as despedidas de muitas pessoas, o puro e simples surgir e eclipsar de outras, e, de repente, o espaço de tempo entre as chegadas e as partidas era breve e este universo também já não me parecia tão longo como, amiúde, se foi afigurando no decorrer dos meses.
Aproveitei e espreitei, igualmente, o site meter e o mail. O mínimo que posso fazer, dado que bem poucas vezes respondi a quem nos escrevia, é agradecer-lhes a contínua atenção que nos dedicam e todas as palavras simpáticas que nos vêm oferecendo ao cabo de quase um ano.
Entretanto, é tempo de mais um adeus. O Tiago assumiu a sua condição de homem casado e mudou-se do desejo para a completude de um mundo perfeito. Mas mantém-se na vizinhança virtual.
Quanto a mim, dei um pulinho rápido às ilhas. Amanhã, dou uma entrevista e foi por isso que por aqui andei em pesquisa, à procura de coisas inteligentes que já tivesse dito para lá repetir.
Tenciono fazer história e ser o primeiro tipo a plagiar-se a si próprio.
Mas prometo fazê-lo com muito carinho.
AB

segunda-feira, março 01, 2004

www.mundo-perfeito.blogspot.com 

A única surpresa que este post pode ou deve causar é o meu regresso fugaz ao Desejo Casar. Passou-se mais de um mês desde a última vez que publiquei algumas linhas aqui. Tenho estado fora, o que não é desculpa. Tenho estado ocupado, o que às vezes é justificação. Mas, na verdade, contento-me em ler o DC.
Quero escrever e continuo a fazê-lo. Faço-o profissionalmente. E faço-o como amador. Às vezes, faço-o sem querer.
Como outros antes de mim, sinto que o meu percurso no DC chega ao fim. Simplesmente, porque apenas escrevi no DC quando senti a necessidade de o fazer. Agora, a minha necessidade tem outro alvo, porventura mais utilitário, mas também mais pessoal. O projecto que criei no ano passado, chamado Mundo Perfeito, tem agora um espaço na blogosfera. É nele que devo investir.
Aos meus companheiros de DC deixo um abraço e a promessa de permanecer um leitor fiel. Com algumas naturais infidelidades pelo meio. Imagino que estejam habituados.
Aos que me quiserem ler, mesmo que na diagonal, fica o convite: www.mundo-perfeito.blogspot.com
Tiago Rodrigues

This page is
powered by Blogger. Isn't yours?