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sábado, setembro 27, 2003

O blogger esquisito 

Há muito quem diga que escrevo textos "esquisítíssimos" aqui no Desejo Casar. Aqui vai outro, com a inevitabilidade de eu próprio ser "esquisitíssimo" e, portanto, não poder esquivar-me a escrever desse modo, se quiser ser verdadeiro.

Primeiro deixem-me constatar a banalidade que origina este post. Quando escrevo, tento colocar uma parte de mim no texto. Às vezes mais, outras vezes menos. Mas a objectividade e a imparcialidade não existem em absoluto, mesmo se o que escrevemos é uma breve de jornal regional, um obituário ou um anúncio para a venda de uma ninhada de cachorros. Nem que seja na escolha das vírgulas ou dos sinónimos há sempre uma opção pessoal, um pedaço de verdade, uma parte de nós.

Posto isto, segue a pergunta que motiva este post. Que fazer, quando o que temos necessidade de escrever magoa os que nos são mais próximos? Se a história que queremos contar magoa os que amamos, mesmo apesar de ser o mais verdadeiro que temos para escrever, devemos ou não escrever? Devemos ou não publicar?

Agradecem-se respostas esclarecidas. Mesmo que esquisitas. TR

sexta-feira, setembro 26, 2003

Love mail 

Queixou-se a nossa Clarinha de que só os machos do DC recebiam propostas eróticas. Descansa, CMC, que os leitores - além de fiéis - são apaixonados. Aqui fica o pronto-socorro:


"Clara,

Li o teu lamento de que só os lampiões dos teus colegas de blog recebem mails de fazer corar e de que já não há platonistas.

Ó Clara de olhos garços, deixa-me ser o Platão da tua caverna!! ( vês, não só li Platão como entendi tudo!)

O teu admirador embevecido,

Miguel"

Aos queridos colegas do DC, com quem eu muito prezo viver,  

Depois de "asneirar" em nome da polémica e do debate, de joelhos vos peço: não me expulsem, please.
CMC

Marialvas, com excepções. 

Nos próximos posts falarei aqui dos homens que me interessam. Marialvas talvez, mas afectivos, que exprimem  emoções, medos e culpa, a quem interessa um pouco mais que ter uma "barbie", que sabem ficar de luto quando uma relação acaba, pedir um conselho e outras minudências. A esses homens quero aqui prestar o meu tributo. Possíveis contributos para o nosso hotmail. Agradecida. CMC

Ascensão e queda de C. Ronaldo 

Cristiano Ronaldo auferia uma remuneração mensal, enquanto jogador do Sporting CP, que rondava os mil e quinhentos euros (€1.500,00), valor muito considerável para um adolescente de 18 anos. Entretanto, foi contratado pelo clube inglês Manchester United por uma soma astronómica, o que causou sensação nos cofres do referido clube português. A propósito desta contratação, afirmou o jovem jogador que se sentia bastante feliz por ter feito a escolha certa, isto é, por ter escolhido o maior clube da liga inglesa, porventura o maior da Europa e um dos melhores do mundo. Atenção: tinha sido o jovem jogador português a escolher o maior clube inglês, o que impressiona.
Pensava C. Ronaldo ter feito, então, a boa opção; pudera, ia passar a receber mensalmente cerca de trinta e cinco mil euros (€35.000,00)! E que fez C. Ronaldo enquanto jogador? No primeiro jogo da temporada, entre o Manchester United e o Bolton Wanderers (na altura, sem Jardel), o jovem jogador começou no banco, entrou já decorria a segunda parte e fez alguns passes, algumas boas fintas, alguns bons cruzamentos. Ganhou o seu clube. A partir daí, não mais se viram as boas (e exigíveis) exibições, comentaram os adeptos do Manchester United; mais desgostosos ficaram aquando do jogo que opôs o Arsenal ao Manchester United, que terminou empatado a zero, com agressões de parte a parte e demais cenas lamentáveis, que incluiram, entre outros, o jovem jogador português C. Ronaldo.
Por essa altura, já um tablóide inglês fazia notícia das desalmadas compras de C. Ronaldo com a sua mãe, ida directamente de Portugal para aquele Reino. Unido. C. Ronaldo acabara de gastar uma fortuna em vestuário e de demonstrar por que razão haverá sempre jogadores portugueses a jogar em clubes estrangeiros mas só alguns a vingar.

HR

A boca dos outros 

«O post que o Dicionário nos dedicou causou celeuma. É que ao contrário do que o nosso nome possa supor, nós aqui, no DesejoCasar, tirando os dois elementos casados e o LCA, somos algo cépticos em relação ao casamento. Isto é, nós desejamos desejar, mas não verdadeiramente passar a vias de facto: casar.»
CMC escreveu e publicou isto com convencida sapiência e esqueceu-se de que o blog DESEJO CASAR é uma colectividade de pessoas (mais do que uma comunidade) que escrevem - isto é, que escrevem pelo menos no blog -, e não uma individualidade. Por isso, não pode falar por mim. Não pode dizer que, exceptuando os dois elementos casados e LCA, «somos» algo cépticos em relação ao casamento. Não pode, enfim, incluir-me nessa lista de, não raras vezes, amargurados em relação ao amor. A razão é muito simples: eu não sou nem céptico em relação ao casamento nem «algo» céptico em relação ao casamento. Eu não só desejo casar (enquanto elemento do blog DESEJO CASAR) como vou casar.

HR

Cinema Off-Broadway (Colónia), 22h12 

De certeza que estava à espera. Fumava ansiosamente, conferia no vidro se o cabelo estava correctamente desalinhado e fazia de conta que lia uma revista cinéfila. Sempre que a porta da esperança se abria, tentava ser discreto a olhar, para depois exagerar a descontracção. A sessão começou às nove e meia. Acabou mesmo agora de abandonar o cinema e não teve coragem de vender os dois bilhetes desiludidos. REC

Estação central de Bona, 19h33 

A voz do altifalante que anuncia o suicídio de alguém e o consequente atraso na circulação ferroviária faz com que os seres olhem para o relógio, murmurem resmungos e telefonem ansiosamente. Quando se lembram que são humanos, exibem caras de súbita compaixão. O minuto de silêncio que se seguiu não o chegou a ser, interrompido pela chegada de um outro comboio. O bêbado voltou a insurgir-se contra o sistema, o vendedor de salsichas voltou a ocupar-se delas. Para uns, a vida pode continuar. REC

quinta-feira, setembro 25, 2003

O INIMIGO PÚBLICO, amanhã, à solta 

As Produções Fictícias e a Farol de Ideias apresentam aquilo que já fazia falta:

Não, ainda não são os ansiados implantes grátis de silicone para toda a população feminina portuguesa, mas é quase tão bom.

A partir de amanhã, e sempre com o Público de 6ªfeira, passa a ser vendido "O INIMIGO PÚBLICO", um jornal de humor cujo princípio editorial faz lembrar o fio de raciocínio de Alberto João Jardim,

SE NÃO ACONTECEU, PODIA TER ACONTECIDO.

Na primeira edição, amanhã nas bancas, não perca tudo sobre a remodelação governamental levada a cabo por Paulo Portas que apanhou Durão Barroso de surpresa, a nova carreira de Kumba Ialá numa instituição portuguesa e uma rocambolesta teoria que pode inverter completamente o rumo do processo Casa Pia - entre outras notícias de fazer rir um António Ribeiro Ferreira.

Os publishers são Nuno Artur Silva e Daniel Deusdado e o Director é Luís Pedro Nunes. A equipa do jornal, além das empresas referidas, integra grandes personalidades nacionais e, para os adictos da blogoesfera, há um bónus: os "blogs dos famosos". No total, são 12 páginas inteirinhas todas as semanas, que fazem o Público de 6ª custar mais 20 cêntimos. O DC recomenda. LFB

As amigas dos homens  

Os meus amigos que me perdoem o que vou dizer.
Mas as amigas dos homens sabem muito bem que não os queriam para namorados.
Não está em causa serem homens atractivos, ou intelectualmente interessantes. Fisicamente, claro, para mim não são, senão não seriam meus amigos, mas sê-lo-ão para muitas mulheres.
O que está em causa é uma doença que, como amigas, comprovamos afecta os seus cérebros, sem excepção, quando "abocanham" uma mulher. As amigas dos homens conhecem de perto esse fenómeno: nas cabeças dos homens começa a tocar a música do "dono e senhor".
Há uma agulha nas suas cabeças que, ora aplica um trato a uma mulher enquanto é só conhecida ou amiga e que logo lhes dá outro trato quando ela entra na sua "posse". Enquanto amiga permitem-lhe livre expressão e debate de ideias, igualdade, liberdade para beber, vestir, fazer o que lhes dá na real gana, mas quando as mulheres passam a suas namoradas o caso muda de figura. Interessam-se pouco por "discussões" com elas, controlam-lhes, discretamente, a liberdade e sentem-se mais despeitados que lisonjeados se elas brilham. Dá-se mesmo o caso de ser embaraçoso em público manifestarem discordância de perspectivas, sinal de que ele não efectuou a total subjugação mental do cérebro dela, para já não falar no caso de ela em público se revelar mais inteligente que ele. E se as menos espertas agradecem, as que teriam alguma coisa a dizer calam-se.
A namorada é um prolongamento dele que ele julga conhecer e que aufere um estatuto entre um bem social e uma função útil; e o espaço de lubrificação mental masculino está fora dela, no exterior, ao pé dos amigos e de algumas amigas que sobrem.
Felizmente para estes marialvas, existe o seu equivalente no sexo oposto, as mulheres que nunca boicotarão este estado de coisas e, antes, se "esganam" umas às outras em busca desse inefável estatuto de "criado-mudo". As que não querem, ficam as eternas amigas. CMC

Cuidem-se de nós! 

Na sequência do post " Não há pressas", a amiga visada envia-me um mail: " cum caraças, só faltou escreveres o meu nome".
É, assim, o blogger, vampiriza a sua vida, a dos outros, vampiriza o mundo. É preciso muito alimento para este corpinho. Que coisa mais feia! CMC

fim: Bruxelas-Paris-Madrid-Lisboa 

Em Bruxelas, acabei por ter um programa intenso de refeicoes sociais: jantei com um amigo de Lisboa, que por ali se encontrava a pretensas do alargamento - jantamos as seis da tarde, andamos a procura de bares ate a meia noite e finalmente consegui dormir numa cama verdadeira, coisa que ha uma semana nao acontecia, num daqueles hoteis de que o Lonely Planet nao fala, porque, nao sendo "impressively stilish" nem "smart", sao limpos e confortaveis e pertencem a cadeias americanas.
No dia seguinte, almocei com o Miguel, que foi meu aluno ha tres anos e que agora veio acabar o curso, via Erasmus, para a Universidade Livre de Bruxelas. Tem a namorada em Bruges e quer casar com ela em Novembro, na embaixada portuguesa. Contou-me que se meteu no aikido na Universidade, coisa que ja fazia em Lisboa, mas agora e muito melhor enrolar-se com uma belgas louras e sorridentes, mesmo que estudantes de Direito. Perguntei-lhe se, atendendo tambem a esta ultima afirmacao, nao quereria rever os seus planos de casamento, mas percebi que quando as pessoas metem na cabeca que querem casar, e muito dificil, antes de se divorciarem, pensarem em fazer o contrario. Fico a espera...
Finalmente, tomei um cappucino com a Sara, amiga belga que ja tinha roubado a outra amiga minha. Esta optima, linda e vai uma semana para Praga ensinar checos a fazerem pesquisas nos sites da UE... E o alargamento, nao ha nada a fazer. Nao ha como os fundos comunitarios para alimentar a economia de uns e a fome de outros.
Pensei em dormir novamente em Bruxelas, mas achei que isso poderia equivaler mais tarde a ter de vender alguns moveis de casa e, assim, meti-me mais uma vez no comboio (24 horas depois do ultimo) e voltei a Paris.
Resolvi comecar a pensar no regresso, portanto. Assim, bilhete para Irun, e dai para Madrid, onde estou agora. Daqui por seis horas, comboio para Lisboa.
Em Paris, ainda tive tempo de assistir a uma discussao conjugal entre um casal de jovens japoneses. Estavamos no metro. Eles estavam a conversar civilizadamente. Eram nove da noite. De repente, o metro para, uma estacao, e ela sai rapidamente, deixando todas as malas com ele. Nao olha para tras. Ele nao vai atras dela - mesmo que quisesse nao podia, esmagado ja por duas mochilas e uma mala... Acabou assim. E foi uma discussao, o que so se via pela cara dele. Sem gritaria, sem choro, sem raiva visivel: o metro para, ela sai. Devia era ter saido noutro sitio, a Place de Italie nao e o melhor local para afogar magoas a noite (ou ate pode ser, mas noutro sentido). Isso, ela ja deve ter percebido por esta altura.
Quando apanhei o comboio para a fronteira espanhola, encontrei em Austerlitz um revisor gay que me facilitou imenso a vida. Era preciso uma reserva previa, deixou de ser. Afagou-me o ombro. Foi parternal nas suas palavras. Quase me ajudava a levar a mochila. Eu atraio estas figuras: lembro-me sempre de, teria eu uns quinze anos, a minha mae me levar ao medico (num servico de urgencia, apanhei uma medica) e a medica so se preocupar, nao com a amigdalite, mas com os cuidados que eu e a minha mae deveriamos ter para me proteger das, segundo ela, inevitaveis ofensivas gay a minha pessoa. Perguntou-me a medica se eu era bailarino. Eu estive para a mandar a merda, mas lembrei-me que tinha feito dois meses de ballet aos seis anos. Pronto, marcou a minha sexualidade para a vida e assim viverei sempre como um icone do universo gay. Pena que nao o seja tambem, ja agora.

Nao levei um Moleskine para a viagem, apesar de ter discutido isso com o NCS. Também nao levei um bloco Castelo. Continuo a gostar mais dos blocos A5 da Ambar, de capa preta (trouxe dois...). Mas acabaram por ficar aqui, no DC, as coisas que telegraficamente me apeteceu dizer. Dizer a quem? A quem chega esta cifra dos dias? Sejam quem forem, DDD, a todos os leitores. MR


Castelo versus Moleskine 

Hemingway, Chatwin, Céline, Van Gogh e Matisse não têm culpa disso. Está a chegar a Portugal a moda dos Moleskine, (sabemos todos) caderninhos usados por estes criadores durante as suas vidas de rabiscos e apontamentos. Qualquer escriba luso que se preze anda agora com um Moleskine na mão, no bolso ou dentro da malinha de couro. Dizem-me que, mesmo que as ideias sejam apenas razoáveis, tudo o que se escreve nestes cadernos tem o brilho dos esboços geniais. Aviso já: se é assim, quando for grande, também quero ter um. Por enquanto, fico-me por uns mais modestos - costumo andar acompanhado de um caderno Firmo e de um dos mini blocos sem marca, oferecidos por um amigo. Permitam-me o desabafo num tom juvenil de quem exibe montanhosas borbulhas e um daqueles porta-chaves, agora também na moda, sob a forma de coleira: aquilo é bué da caro! Tem uma Marca - à excelente qualidade do produto junta-se o peso da Marca. E as muitas leituras - e a sensibilidade e a atracção pelo sublime - não mudaram muito a criança fascinada por marcas que ainda sobrevive dentro das almas dadas à escrita. No momento em que os predadores Moleskine entram em Portugal, lembro-me, por exemplo, dos nossos blocos Castelo. Não o faço por uma questão nacionalista - é mesmo nostalgia de coisas simples, com outro tipo de pedigree. Lanço, a partir de um dos cantos deste blog, o apelo para que os blocos Castelo se apressem a puxar dos galões. Citando o próprio Hemingway, depois de ter falhado um tiro na savana, "isto não pode ficar assim!". Use-se a mesma estratégia do caderno inimigo. Vão aos arquivos buscar as referências históricas da biografia dos Castelo. E coloquem-nas, depois, em letras garrafais, nos expositores de venda. Aqui ficam dois exemplos de slogans: "Castelo, os blocos que foram usados pelo Fanã, afamado escritor de letras de fados da Madragoa". Ou, numa versão menos artística, "Castelo, os blocos onde o senhor Joaquim da mercearia fez as contas das vendas da linguiça e do chourição". NCS

quarta-feira, setembro 24, 2003

Stephanie casa e desiste à última hora de integrar o DC 

A irrequieta princesa Stephanie do Mónaco casou com um acrobata português. É desta que a menina vai encontrar a felicidade. Afinal, depois de tanta palhaçada, quem melhor que um artista de circo para a compreender? LFB

Ai é? 

Ariel Sharon dizia continuar empenhado no Roteiro de Paz para o Médio Oriente. Infelizmente, fonte segura garantiu ao DC que um palestiniano foi visto a cuspir inadvertidamente para o chão em solo israelita ao mesmo tempo que a sua idosa esposa atravessava a rua fora da passadeira. Como se não bastasse, um menino rematou a bola para o quintal do lado e houve uma palestiniana que comprou fiado na Mercearia do Isaac.
Fiel à máxima do "olho por olho, dente por dente", Sharon mandou logo os F-16 retaliar. LFB

Ainda o casamento… 

O post que o Dicionário nos dedicou causou celeuma. É que ao contrário do que o nosso nome possa supor, nós aqui, no DesejoCasar, tirando os dois elementos casados e o LCA, somos algo cépticos em relação ao casamento. Isto é, nós desejamos desejar, mas não verdadeiramente passar a vias de facto: casar.
Por isso, perante o post "4 casamentos e um funeral", ouviu-se em "voz" dominante, falar de fracassos, os nossos e os que rebentam à nossa volta, da tristeza que isso provoca, convidando, de antemão, à desistência. Falar de um duplo mito: amor e casamento.
Depois, veio a voz minoritária: o Nuno (NCS): que ser pró ou contra casamento vem da experiência pessoal de cada um, famílias e casamentos que acompanhamos, encontros e desencontros de vidas. E de como o preconceito contra o casamento nos dá tanto jeito como defesa, mas redunda numa prisão. Ficamos encurralados num ponto de vista de uma história pessoal, que é a nossa e que, à medida que o tempo passa, menos possibilidade tem de mudar. Deu-nos, ainda, algumas razões para o casamento: disciplina de vida, a importância de um ritual como o do casamento no horizonte plano da memória. Sem isso, o risco é demasiado grande, à distância, desenrola-se um areal sem torres.
Precisamos - os antepassados bem o sabiam- de rituais de iniciação às diferentes etapas, regados de festa e discursos que melhor nos comprometem com a vida.
É preciso que se diga que o Nuno é ponderado e uma das pessoas mais avessa a preconceitos, artifícios e pose que conheço, e não menos inquieto com a ambivalência das coisas, falando abertamente das desvantagens. É caso para nos deixarmos levar, agradecidos. Obrigada, Nuno. CMC

Nisto sou esteta 

Maior leviandade que a de andar no casa-descasa é a de coleccionar filhos de pais diferentes. Que falta de gosto. E pelos vistos, anda na moda (Stéphanie, Catarina Tallon, Sofia Alves). Foi para isto que as mulheres se emanciparam? CMC

Verdade 

Na sequência do post "não há platonismo ", o J. telefona a dizer: "leio-te sempre e não é pelas pernas. Agora queixaste por te olharem para as pernas, quando fores velha vais te queixar por já não olharem para elas". Ai, é verdade. CMC

"Loucos por amor" 

Para quem, como eu,  tem medo de barretes no teatro, esta peça de Sam
Shepard, no Cal, com a Catarina Furtado e outros , é uma feliz surpresa
(Catarina, incluída).CMC

Breves notícias 

1. Fiquei a saber ontem, pelo Público, duas coisas relevantes sobre o sector vinícola português. A primeira, que acaba por não ser novidade, é que Portugal aposta sobretudo na produção de vinho tinto, em detrimento das castas brancas. A segunda é que a superfície vinícola do país decresce de ano para ano, com claro desinvestimento naquele sector, com excepção da região do Alentejo, cuja superfície vinícola cresceu, entre 89 e 99, cerca de trinta por cento. Este segundo aspecto justifica a qualidade em ascensão dos vinhos alentejanos.

2. No Diário de Notícias, escrevia também ontem o professor João César das Neves, a propósito do incumprimento do Pacto de Estabilidade: «O problema não tem a ver com o valor limite [défice orçamental até 3% do PIB]. Com este comportamento irresponsável, se o Pacto fixasse 5 ou 10% a mesma coisa sucederia. A questão de fundo é que a moeda única permite aos países endividarem-se sem crises; e isso é uma tentação demasiado forte. O urgente não é tanto rever a regra mas mudar o oportunismo dos membros face ao todo.» Entre esses membros encontra-se a Alemanha, país que propôs o Pacto de Estabilidade para depois o não cumprir.

HR

dias 4/5/6 Budapeste-Munique-Paris-Bruxelas 

A Hungria parece-me, ao contrario da Romenia, bastante pronta para o alargamento. Desde a ultima vez que estive em Budapeste, ha sete anos atras, noto agora um aumento extraordinario de louras e os precos subiram bastante. A Europa, portanto. Grande parte das louras parece ser verdadeira. Quando penso na Hungria, lembro-me sempre da Maria. Sentado no Gerbeau, nove da manha de sol, vindo de um magnifico comboio romeno, lembrei-me da Maria. A Maria qualquer coisa e uma jurista hungara que encontrei em diversas reunioes da Uniao Europeia, nos ultimos dois anos. Em tudo o que era reuniao com representantes dos paises do proximo alargamento la estava a Maria. A Maria era, ela propria, afinal, o proximo alargamento - vestia sempre uma impecavel mini-saia preta, pintava os labios de vermelho budapeste e la ia ela, falar sobre tudo com um sorriso aberto, para uma plateia de dinamarqueses interessados. Enfim, a Europa nao perdoa.
Aproveito este post para falar de coisas das quais me esqueci nos anteriores. Por exemplo, dizer que fui ver uma belissima exposicao do Durer ao museu Albertina de Viena (9 euros, ate Dezembro) - o que fez lembrar a minha colega Albertina, colega por alguns meses no Ministerio, semelhante ela propria alias a alguns auto-retratos de juventude do pintor em causa. Ou dizer que viverei sempre na admiracao pelo extase que os guias de viagens australianos nutrem por tudo o que barato e manhoso (e gosto muito de os ler). O Lonely Planet e o melhor exemplo. Sempre que algum hotel e descrito como "impressively stilish" e fugir logo. Quando os quartos sao "old, but comfy" ou "but smart". e nem pensar em sequer la ir. "Smart", entao, e o codigo para indicar a australianos deslumbrados que ali existe qualquer coisa que normalmente eles so veriam em DVD. Lembro-me que cheguei um dia a um hotel numa recondita ilha grega descrito como sendo "impressively stilish", so porque tinha dois metros quadrados de marmore a entrada... Em Marrocos, tudo o que e "smart" e basicamente sujo. Etc, etc.
Hoje estou em Bruxelas, tendo vindo de Budapeste, via Munique e Paris. Comprei em Budapeste uma cama mais ou menos a serio para o comboio da noite Munique - Paris. Acabei por nao a usar, ja que, vindo de uma excursao de pre-adolescentes austriacas no comboio de Budapeste para Munique, ao entrar na carruagem alema das camas, percebi que aquilo era muito mais pequeno e desconfortavel que uma simples couchette num comboio quase vazio... Calhei num compartimento com o Dorete, do Benim; e o Stash, de Nova Iorque. O Dorote foi dormir cedo. Eu e o Stash, que vinha da Oktoberfest de Munique, compramos varias cervejas a menina simpatica que zelava por nos e fizemo-nos um downgrade: fomos para uma carruagem de 2.a e por la ficamos (ate porque so se podia fumar seis carruagem depois da nossa predestinada...). No entanto, tomamos o pequeno almoco pago previamente (um bilhete Munique-Paris naquele regime custa o dobro de uma viagem de aviao). Fiquei com casa no SoHo e o Stash com casa em Lisboa. Em Paris, ainda tomamos um cafe (parecido com cafe) e ele foi a procura da amiga francesa cohecida em Nice na semana anterior, enquanto eu me dirigia para Bruxelas, onde tinha um jantar marcado.
To be continued...
MR

Learning to fly 

Há quem combata a insónia resolvendo, com modéstia, um a um, os problemas da Humanidade. Há quem se limite a recordar uma sombra, um abanar de cabelo, o rasto de uma palavra do dia que passou. Há quem realize mentalmente um filme pornográfico de baixo orçamento e há quem antecipe, como uma agenda electrónica, todos os gestos e palavras da reunião de amanhã. Há quem se veja a fazer uma finta de génio durante um jogo do seu clube e há quem imagine que está a ver o fundo, o fundo do mar, atravessado de raias e mansos tubarões. E há também quem se levante da cama, ligue o computador e tente ver se ainda há uma qualquer luz acesa num dos blogs da frente. NCS

A fronha da almofada e outros contos nocturnos 

Quando o agrafador boceja, indolente, a secretária tropeça, fatigada, as fotografias familiares ameaçam-me caretas, sonolentas, a cadeira range, incomodada, o rádio cambaleia, apático e o cinzeiro resmunga, estremunhado, fico a olhar para o relógio, autista, à espera do momento em que o ponteiro dos minutos se decida avançar preguiçosamente. Lembro-me do Nuno, com quem me costumo cruzar a estas horas dormentes, e escrevo numa folha barbitúrica que não me posso esquecer de avisar a Clara. Gostaria que continuasse a passear-nos por bairros lisboetas. Simplesmente porque. Os textos não merecem o fim que pareceu ser anunciado. Dou um beijo de boa-noite à porta, entorpecida, abraço o silêncio que se impõe, barulhento, e faço companhia ao livro, voluptuosamente espreguiçado na cama. REC

Reencontros 

Os reencontros inesperados são, a maior parte das vezes, situações constrangedoras em que não sabemos se é conveniente invocar a memória e o passado partilhados. Mas sei hoje que não é o facto de serem reencontros inesperados. Não é a surpresa. Basta serem reencontros. Encontrar alguém do passado é apagar o caminho desde o passado até hoje e tentar contá-lo ao outro, para que aquilo que somos hoje faça sentido.
O constrangimento do reencontro é o medo de que o outro concorde com o pior que pensamos de nós, que o outro não compreenda o caminho que percorremos e que nos distanciou, que o outro já não nos conheça ou já não seja quem nós conhecíamos.
A situação piora quando falamos de alguém de quem gostamos muito mas com quem não temos a intimidade do reencontro caloroso e do rol de memórias inesquecíveis para desfiar.
Penso tudo isto sobre os reencontros. Mas quando chegar a altura, continuarei sem saber porque estou em silêncio, simplesmente, a olhar. TR

Fernando Correia comoveu-se 

Esta noite, no célebre programa Bancada Central da TSF, a habitual troca de galhardetes entre ouvintes foi interrompida por uma declaração comovida do carismático locutor Fernando Correia. O meu rádio emitia com algumas interferências mas pude ouvir o locutor falar emocionado da elevação e classe com que se discute o desporto rei no Desejo Casar. Disse ainda algo sobre o futuro da juventude e do futebol passar por este blog. Depois chorou... TR

terça-feira, setembro 23, 2003

Prémio para o post mais frívolo do dia 

Se a vila de Palmela tivesse searas nas suas encostas e dois castelos arredondados em vez de apenas um castelo anguloso, poderia ser a primeira vila com apelido. Chamar-se-ia Palmela Anderson. TR

E a Abelha Maia na pasta das Finanças? 

Depois de REC, é CMC quem nos brinda com o recuperar de uma memória pueril: posta a orfandade de Marco, que desejar mais que a comovente angústia da frase-chave do pequeno Calimero?
Entretanto, o Público recrutou o Tintim e o Correio da Manhã lançará 20 antologias da mais diversa BD. É impressão minha ou finalmente o Primeiro Ministro se chegou à frente e trocou Pedro Roseta por Vasco Granja? AB

"post" scriptum: As mulheres e o seu mau feitio... Então, não é que a Clara nos quer roubar os carinhos electrónicos? Mas lá que essa da escritora e das boas pernas foi bem achada, lá isso foi. I'll give you that...

A diferença entre a rocha e a lama. 

[Só quando terminei este post notei que LFB e HR já se haviam referido ao mesmo assunto. Não faz mal... quando o gajo já está no chão, ainda lhe mando mais um pontapé... A seguir, invento outro post.]

Após demorada batalha interior, não resisto aos meus próprios argumentos e sucumbo a regressar ao futebol como tema. Agora, volvidas 48h sobre o desafio, estão esgotados os palavrões que poderíamos chamar ao Miguel e ao Argel (podem parecer nomes de anjos, mas aviso-vos de que é pura manobra de diversão) e podemos, portanto, reflectir sobre uma incidência talvez menor do encontro.
O protagonista dá pelo nome de Ricardo Rocha e eu gosto dele, embora não da mesma forma que muitas senhoras, depois de ver o homem em tronco nu. Os comentadores da hora, os analistas de domingo à noite e os jornais do dia seguinte caíram-lhe todos em cima, mas gostaria de, uma vez mais, ser bicho de contradição. Na senda de um post do mês passado, confesso que me revejo na sua reacção. Deco simulou, pela quinquagésima vez, uma falta e o árbitro decide expulsar Ricardo.. Não lhe mandar com uma chuteira à testa já foi sinal de uma educação britânica! Mas os especialistas acham que não, que um profissional não pode cometer atitudes daquelas, que em alta competição não se admite semelhante comportamento, et caetera. Houve uma palavra sobre Deco? Não. Um nota de rodapé sobre Maniche que, esperando o rodar de olhar do árbitro pisou Petit com os pitons, estendido no chão? Nem pensar.
É por estas e por outras que cresci a ser benfiquista e anti-portista: porque compreenderei e preferirei sempre um jogador que se exalta com a injustiça aos canalhas que agridem à má fé e aos sonsos que vão dizer ao papá que o irmão lhes bateu.
De resto, Ricardo, amigo, podes estar certo de que sacarás muito mais gajas que eles os dois juntos. A serenidade com que saíste, desfilando, imperturbável, diante de toda a claque portista, partiu, com certeza, muitos corações, mesmo entre as raparigas azuis. AB

Este Porto (por um benfiquista) 

No seu último post, escreveu o Luís Borges, entre outras coisas, o seguinte: «(...) este Porto com quem vibrei em 87 e na final da UEFA, não passa de uma equipa provinciana, suburbana, cada vez mais parecida com um Portugal cada vez mais reles». Escreveu isto a propósito do FC Porto, mas podia tê-lo escrito sobre outra equipa qualquer do campeonato português, esse sim, provinciano, suburbano e reles. Podia ter dito, por exemplo, que no FC Porto ninguém imprimiu a fotografia da filha na braçadeira de capitão, embora isto talvez tivesse impedido o Jorge Costa de atirar a braçadeira para o chão - afinal, podemos desrespeitar um clube e uma posição que ocupamos na equipa de futebol, mas nunca uma filha. Podia ter acrescentado à provinciana história da braçadeira o amuo do Simão Sabrosa por não ter sido eleito capitão de equipa, que alimentou a Bola durante alguns números, esquecendo-se que no tal FC Porto isso nunca aconteceria, ou, pelo menos, nunca saberíamos, porque no FC Porto o que é para ser tratado internamente, é tratado internamente.
E já que invoca datas e vitórias europeias, podia ter agradecido ao FC Porto mais uns pontinhos para este reles país, que darão muito jeito para passarmos a ter (que saudades) duas equipas apuradas directamente para a Liga dos Campeões, sem ter de passar pelas penosas eliminatórias sempre desperdiçadas pelo seu Benfica.
Que também é o meu Benfica. E é por isso, por este provinciano, suburbano e reles Benfica ser o meu clube do coração, que o Ricardo Rocha pode continuar a atirar a camisola para o chão, ou para o árbitro, em sinal de protesto contra uma decisão arbitral e arbitrária, desde que não o faça muitas vezes e desde que não tenha já um cartão amarelo. E que o Tomo Sokota pode continuar a atirar bolas à trave e aos postes, desde que continue a empenhar-se a fundo em todos os jogos, invariavelmente contra a maré. Mas também é por isso que o Miguel não pode receber a bola com o peito e simultaneamente atrasá-la para o Moreira em plena grande área, com o Derlei por perto.
Meu caro Luís, livrámo-nos de levar 5 secos nas Antas, mas ainda falta o jogo em casa. Prefiro uma vitória por 1 a zero para o Benfica, mesmo a jogar mal, mesmo com um auto-golo do Ricardo Carvalho (duvido, mas enfim), do que o relvado plantado com camisolas vermelhas.

HR

o meu primeiro post encomendado, e logo NA PEIDA! 

Já se disse pela blogoesfera que a bola é para discutir na peidola, meaning toma-lá-que-já-almoçaste-o-meu-é-maior-que-o-teu-tenho-razão-e-prontos. Pois muito bem. Estou com uma directa em cima e prometi este texto a um amigo. Prometo, no futuro, refrear os meus ímpetos em relação ao futebol. Mas, por agora, cá vai:

a) o Benfica perdeu com o Porto por culpa própria. Com os instintos suicidas que esta equipa tem revelado, admira-me que as portas do céu ainda não se tenham aberto com a subsequente catrefada de virgens à espera do Miguel e Argel, só para dar dois exemplos.

b) este Porto é pior que o do ano passado mas a calma de Mourinho não é fingida. Nenhuma equipa mantém uma forma 100% durante mais de uma época seguida - e se o pior Porto, mesmo assim, ganha ao Benfica...

c) mas este Porto não engana ninguém. O clube, que se fez forte à custa dos discursos terroristas de Pedroto e Pinto da Costa, acolitados pelos Adrianos Pintos e Pôncios e afins, não passa - por isso mesmo - de um clube regional. Há mal nisso? Claro que não. Mas há ironia. É que este Porto, clube regional, tornou-se orgulho nacional e mais, personifica - hoje - muito daquilo que é, infelizmente, o "português". É um Porto da dissimulação (Deco, pelo segundo ano consecutivo, a "expulsar" um adversário que nem lhe toca), é um Porto do toca-e-foge tipicamente luso (Costinha a exemplificar, sobre Simão, o que é uma entrada por trás a pés juntos para vermelho directo), é um Porto da cobardia (Maniche a agredir Petit no chão depois de se certificar que o árbitro já não olhava), é um Porto dos chicos-espertos com as costas quentes (Jorge Costa, que já vira o amarelo, a mandar o árbitro para o cabeçalho depois de lhe ser assinalada uma falta na marcação de um canto), é um Porto, em suma, de taxistas de aeroporto, uma equipa que sabe jogar mas não tem classe, concebida à imagem e semelhança dos seus presidentes e treinador, uma equipa que - mesmo contra dez - preferiu desistir do desafio para jogar de acordo com os "olés" do seu público primário em vez de, como faria um adversário digno, dar as estocadas finais que o derrotado, pela luta que deu, merecia. Um Porto que não segue os raros exemplos que tem de carácter, como Derlei, que saiu abraçado ao jogador que lhe oferecera o golo, confortando-o.
Este Porto, de fanáticos incapazes de torcer pelo Benfica em provas internacionais, de gentinha complexada e incendiária, de um treinador que deixou os seus jogadores perfilarem-se para os fotógrafos de Sevilha e desatou a correr sozinho pelo estádio de medalha na mão, de um presidente que se pavoneia pelas revistas do social com uma maria elisa da matchbox, este Porto com quem vibrei em 87 e na final da UEFA, não passa de uma equipa provinciana, suburbana, cada vez mais parecida com um Portugal cada vez mais reles. Aliás, quando um dos seus símbolos é o Paulinho Santos, I rest my case. É por estas razões que o Porto nunca terá a dimensão internacional que o talento - o talento apenas - dos seus jogadores mereceria. Ficamo-nos com os Reais e os Manchesters e os miúdos portugueses que crescem a torcer por clubes estrangeiros. Alguém se admira? LFB

ps: e não me venham com vitórias morais nem argumentos do tipo "Benfica, clube do regime". Quanto à "moralidade", preferia ter levado 5 secos nas Antas e que todos os jogadores mandassem a camisola ao chão; e em relação ao tempo da outra senhora, epá, não me lixem! Ainda o Otelo chupava na teta da mãe e já o Benfica tinha eleições democráticas.

Mónica Garcia, fã nº1 

Um post devido e imperdoavelmente tardio. Sucede que a titular é uma das mais assíduas leitoras do DC, daquelas que participa e dá gosto ler. E acontece que a Mónica tem um blog, A nossa vidinha, e há tempos atrás enviou do seu poiso electrónico uma invitation. Não para um ou dois de nós, mas para todo o DC. Não sei se é inédito nem me interessa, mas isto de um blog convidar outro para membro, mesmo não podendo nós aceitar, é de um carinho que todos agradecemos, meio abananados, tarde e a más horas e sem melhores palavras. Ide lá ver a moça, ó almas de Deus, que bem merece a visita. Nós, por cá, na nossa gigantesca mesa de refeições, brindamos todos à tua, Mónica. LFB

Não há platonismo! 

Porque será que há N (ene) leitoras (mulheres) do DC "caidinhas" pelos meus colegas de blog que recebem mails de fazer corar - que fizeram o favor de transferir do nosso hotmail para o seu e-mail privado, privando-me da telenovela, e eu nem sequer um admirador ganhei?
Claro que as nossas leitoras fazem-no pelas razões certas, os rapazes são inteligentes, divertidos, talentosos, o que é que pode querer mais? E onde raio é que se arranja uma mão-cheia igual, por aí?
Só noto que não existe um homem a entusiasmar-se por ler uma mulher sem lhe olhar antes para as pernas. "È una ingiustizia"! CMC

O medo II 

Começa assim a letra de uma música dos GNR: “Tem medo do escuro/tal criança sem futuro/é falso velhaco/cobarde armado em duro”. Sabemos disso: o medo é inimigo dos nossos dias triunfais. Utilizando uma fórmula que não deixa de ser fácil: hoje, temos medo de ter medo. A palavra medo não consta do nosso dicionário público. Por pura vergonha, é claro. Dizemos morte, doença, ausência, dor, mas não dizemos a palavra medo. Devíamos, se calhar, dizê-la mais vezes. Esquecemo-nos de que sem medo não há humanidade. Admiro um homem que enfrenta ondas gigantes, não por ele não ter medo – mas sim por ter conseguido dominá-lo. Sem medo não há coragem nem dignidade. Sem medo, não há arte (pelo menos um certo tipo de arte, que joga nos extremos). Criamos contra o medo e contra a morte. É por isso que gostava que o mundo voltasse a ter medo do escuro. Porque é tendo medo do escuro que podemos fazer brilhar a imaginação. NCS

O medo I 

Se estamos descansados, se dormimos bem e se o tempo corre, quotidiano e direitinho, atender uma chamada é um acto tão automático como o é para os modelos de manga arregaçada que andam de um lado para o outro na Bolsa. Mas há dias em que temos medo de atender o telemóvel. O toque habitual torna-se uma surpresa, uma angústia, a vibração de um medo visceral, antigo. Há dias em que tememos que, do outro lado da linha, uma voz íntima - dos nossos pais, dos nossos avós, da nossa mulher, do nosso marido, dos nossos irmãos de sangue e de afecto - pronuncie os títulos das notícias que nós não queremos ouvir. Sobre um fundo de interferências. NCS

O dia em que o Marco me tramou a vida 

Hoje, alguém recordou-me as aventuras do Marco, pensando que iria assim reavivar memórias de uma infância despreocupada, passada a comprar flocos de neve na mercearia do Senhor Manel. Mas enganou-se. Esta história foi o marco, por assim dizer, mais negativo da minha infância despreocupada, passada a comprar flocos de neve na mercearia do Senhor Manel. Porque tudo corria bem na Génova dessa época, onde a roupa branca era pendurada à janela e não se viam jovens vestidos de preto. A família do Marco era pobre, mas unida, e vivia num bairro em que todos se conheciam e se ajudavam em situações de maior aperto. E assim o Marco pôde viver as suas aventuras nostálgicas, sempre acompanhado pelo seu amigo, um macaco branco. Até ao dia em que o irmão lhe revelou que a mãe tinha que emigrar para a Argentina. A minha vida nunca mais foi a mesma. Às vezes ainda acordo à noite, suado, a pensar no quadradinho dominado pela boca muito grande do coitado (os desenhos eram japoneses), a berrar para a mãe que já se encontrava inalcançável no barco dos emigrantes: “Mamã, não vás para a Argentina!”. Enquanto o barco deslizava lentamente rumo a um futuro incerto, o Marco seguia-o desesperado, saltando de pedra em pedra (sempre acompanhado pelo macaco branco). Até que o barco se perdeu de vista e o pobre ficou perdido em terra, de certa forma órfão. E assim acabava o primeiro volume e eu tremia de emoção e chorava, muito mesmo. E nunca perdoei aos meus pais não me terem comprado os volumes seguintes. Para piorar a situação, não tínhamos televisão em casa, por razões ideológicas, e perdi assim o contacto com o Marco. Sempre que volto a Lisboa pesquiso os submundos literários à procura dos volumes seguintes, de algo que me confirme que ele conseguiu ser alguém na vida. Quando estive em Génova, segui os passos do meu trágico herói e saltei de pedra em pedra. Mas não consegui recuperar a minha alegria infantil. Alguém sabe como terminou a história? REC

segunda-feira, setembro 22, 2003

A última hora 

A última hora deste dia vai a meio quando começo a escrever este texto. É a melhor hora do dia.
Durante esta última hora, podemos olhar para o dia que passou e falar dele como se fosse um episódio de uma série de televisão sobre gente com vidas iguais à nossa. Podemos criticar o guião, a realização, o elenco. Podemos sentir o cansaço e dizer "valeu a pena" ou "amanhã será melhor". Acima de tudo, a última hora é a melhor de todas porque é o epílogo que encerra mais um episódio. É o momento dos diálogos definitivos e das frases lapidares.
É a hora em que me sinto o Capitão Furillo, deitado ao lado daquela advogada lindíssima, no final dum episódio da Balada de Hill Street. É a hora em que sinto que o dia e todos os dias valem a pena, enquanto as sirenes ainda se ouvem lá fora. TR

Nada de pressas 

A M. é uma pessoa de grande fé religiosa. Aprecio ouvi-la afirmar-me que não tem dúvidas de espécie alguma. O mais espantoso é que este misticismo é aliado a um sentido prático e independência como nunca vi. Lá vai na sua mota BMW dar voltas à serra, vigiar obras, dar aulas, com um sentido de orientação que já desafiou o deserto e regressar a um casarão vazio no sopé da serra. Solitária, às vezes mesmo misantropa, já não nos surpreende o seu súbito eclipse ao fim de umas horas de convívio. Some-se, não se sabe bem para onde e reaparece sem dar explicação.
Maria-rapaz, esperta que nem um alho, sem papas na língua, aparentemente arisca mas secretamente terna, entregava-se apenas ao amor da família e a quem lhe desse confiadas provas, numa atitude completamente descontraída com a vida, pois como ela explica, nem dava para o seu feitio viver com ânsias a médio prazo.
Por tudo isto, depois de tantos anos sem lhe conhecermos um namorado, nós suas amigas julgávamos ser um caso de celibato arrumado, de nenhumas queixas, equilibrado e alegre. Em suma, um exemplo.
No fim-de-semana passado apareceu-nos, em 37 anos, com o primeiro e único namorado visível. Inevitavelmente a atormentámos com cusquices. Deste-lhe muita tampa, não? Fizeste-o penar? E ela muito espantada e pouco habituada, perguntava: mas essas perguntas fazem-se? Agora já mais à vontade revela-me o surpreendente. Afinal já se conheciam há dez anos. Mas ela não é pessoa para se atirar de cabeça, sem grandes certezas. Assim, ele penou o tempo que levou a amadurecer a certeza dela. E antes de começarem a namorar, já ela sabia que ele era feito para ela e ela feita para ele. Digo-lhe: isso é muito pouco moderno, nem precisarem de experimentar para saberem que são feitos um para o outro? Responde-me: se não fosse assim nem valia a pena. Nada de pressas, muita certeza. As amigas agradecem a osmose possível. CMC

Belo dia sem carros 

A resposta à pergunta "Para que serve um Dia Sem Carros?" só pode ser: para nada. Ou, vá lá, para causar transtorno aos habitantes das localidades que aderiram a essa estúpida iniciativa. Pergunto-me por que razão não foi o tal Dia (nalguns casos, dias) transferido, em antecipação, para Agosto, mês de férias, de diminuição de trânsito nas cidades e, sobretudo, mês de sol. É ridículo sermos obrigados a andar à chuva até ao local de trabalho, para além de que isso implica, necessariamente, chegar com algum atraso.
A iniciativa é tão estúpida que terminou na cidade do Porto quando era 1 da tarde, sete horas antes da hora prevista. Surpresa das surpresas, três jovens afirmavam, no Jornal da Tarde, que a ideia tinha sido boa, já que podiam andar de bicicleta na baixa do Porto, provavelmente em passeio.

HR

Av.a de Roma (3) 

A propósito do meu post Av.a de Roma (2) recebi duras críticas de amigos pelo meu "paternalismo" com um sem-abrigo que chamei de " limpo e decente".
As minhas desculpas. Este post é, por isso, dedicado aos arrumadores de carros, frente à Igreja de S. João de Deus. No comments. CMC

dias 3/4 Bucareste-Budapeste 

Percebi, ao fim de quatro dias, que a minha viagem sem grandes objectivos territoriais, acabava por ter um fim: andar, muito, de comboio. Depois disto, nao mais me poderei queixar de termos um pais pequenino, onde o mais que se pode fazer sao viagens de quatro ou cinco horas...
Ate para o ano, quando gostaria de fazer, digamos, o Transiberiano, nao voltarei a ter saudades de comboios. Ja tenho saudades, confesso, e de avioes - mas isso resolve-se nas proximas ferias.
Nesta viagem tenho tido alguma companhia vigorosa: acabei finalmente uma coisa chamada True Tales of American Life, editado pelo Paul Auster - grande livro, que e uma especie de grande blog: pequenas historias reais enviadas pelos leitores de um programa de radio norte-americano, compiladas e organizadas pelo Paul Auster, que sao comoventes, geniais e deliciosas. Estou a ler um livro chamado Choke, de um Chuck Palaniuk, americano tambem - ate agora esta a ser divertido, e a historia de um falso sex addict que tenta arranjar dinheiro para manter a mae, ex-presidiaria, com Alzeihmer, num lar, fingindo sufocar em restaurantes e criando dividas perpetuas com os seus salvadores... Parece tonto, mas e muito tipo Easton Ellis, o que eu aprecio. E e cinico o suficiente para os comboios romenos.
Por falar em comboios romenos, a mais sabia verdade sobre eles e: nada funciona. Assim, mantendo isto em mente, tudo se resolve. Viajei de Viena para Bucareste com um conjunto de emigrantes romenos. A ideia que tinha dos romenos era a de que quando falam frances fazem-no muito bem e com prazer. Assim foi, mais uma vez. Havia uma rapariga muito bonita e simpatica, que falava um frances perfeito, mas, nao sei porque, meti na cabeca que deveria trabalhar num bar de alterne austriaco ou numa casa de strip. Devo estar a ser muito injusto, mas fiquei com essa imagem... No comboio, de manha, bebi um optimo cafe (1 euro), feito pelo funcionario da carruagem- com que agua, nao quero saber.
Bucareste, onde estive muito pouco tempo, pareceu-me uma especie de Tanger europeu com mais MacDonalds. Numa esplanada, um sujeito desenhou o meu busto e veio "oferecer-mo": dei-lhe 5OOOO lei, sem saber muito bem quanto era. Ele ficou satisfeito. Eu nao, porque fiquei muito feio e tenho umas legendas por baixo que nao sei ao certo se pretendo traduzi-las - seja como for, tenho um portrait hand made a dizer Roumania 2OO3. Valera milhoes um dia.
Em suma, sem prejuizo de rever em breve esta opiniao, percebo bem o adiar da adesao a UE da Romenia. Antes de aderir a Uniao Europeia, a Romenia deveria considerar seriamente aderir a pratica do banho. Fiquei feliz, contudo, porque os dois romenos com quem mais falei (um habitante do meu compartimento no comboio e o desenhador), a terceira palavra que me disseram foi "Eusebio". O primeiro, professor universitario, perguntou-me se o Eusebio ainda era vivo. O segundo, aditou exultantes comentarios em romeno a Coluna e a Torres... Portugal sera, nos proximos 1OO anos, a terra do Eusebio. Nem vale a pena fazer nada quanto a isso. Melhor o Eusebio que, digamos, o Cavaco...
"Cavaco, il est encore vivant?", nunca mo perguntarao, ate porque mesmo em Portugal ninguem sabe.
Estou hoje em Budapeste, mas ja a caminho de Munique. Na froteira romeno-hungara, um policia perguntou-me se levava cigarros. Depois perguntou se eu levava drogas. Perguntou com um ar serio e acho que nao gostou muito do sorriso que nao consegui evitar, as quatro da manha, com um policia de fronteira a perguntar delicadamente se eu levava drogas. Se calhar, perguntar resulta. Vou reportar a tecnica em Lisboa.
Tenho uma fotografia nocturna optima de uma estacao romena, de Brasov. Parece um salon de fiestas espanhol, a beira da estrada: um casarao grande, encimado por um neon vermelho: BRASOV. Vai ser um sucesso quando regressar.
Ja me alongo, neste cubiculo internetico de Budapeste. Depois conto mais. Obrigado pela escuta.
O vosso, MR

domingo, setembro 21, 2003

Bill Gates e a malária 

Há alguns minutos, li na edição online da CNN, que Bill Gates doou 168 milhões de dólares para combater a malária em África. Em Moçambique, donde escreve o correspondente da CNN, Bill Gates ter-se-á comprometido a lutar sem tréguas contra esta doença que é a maior causa de morte em África, mais ainda que a fome ou o HIV.
Passo os olhos pelos números, assim mesmo em diagonal, porque os números são quase sempre frios. Mas alguns não. Leio que morrem diariamente 3 mil crianças vítimas de malária. Todos os dias. Três mil. Todos as semanas, um estádio de futebol cheio de crianças mortas.
É nestas alturas que todas as minhas opiniões formadas sobre um capitalista selvagem como o Bill Gates valem o mesmo que zero. É nestas alturas que não sei o que pensar de mim. Resta-me a satisfação de ter o Windows instalado no meu computador. E isso é que é trágico. Depois desta notícia, restar-me essa satisfação. TR

Notas de Domingo  

1. A partir do final de 2004, do verso dos maços de tabaco passam a constar fotografias e frases anti-tabaco, algumas chocantes, de modo a reduzir o número de fumadores viciados. Não sou um fumador compulsivo, mas lamento que sucessivos estados norte-americanos e cada vez mais países europeus proíbam os cidadãos de fumar, mesmo na rua (ou seja, ao ar livre - livre, leia-se), do mesmo modo que lamento a proibição de fumar a bordo dos aviões. Acredito que não é fácil para um viciado em tabaco aceitar restrições como estar quatro horas dentro de um avião sem fumar; além do mais, esta situação acaba por ser prejudicial também para os não-fumadores, já que o ar no interior destes meios de transporte deixa de ser renovado. Conseguirão as ditas fotografias e frases realmente reduzir o número de fumadores viciados? Esquecem-se que qualquer um pode comprar o maço de tabaco e transferir os cigarros para uma cigarreira e, assim, deixar de transportar as imagens incómodas. Por outro lado, medidas como esta cheiram a esturro: então não é que os agricultores portugueses, entre outros, são subsidiados pela União Europeia para cultivar tabaco?

2. Está na moda ser comentador político ou, melhor, de política. Os próprios recém-licenciados e estudantes de Ciência Política têm como sonho o comentário político e admitem ver e ouvir (deliciados, sem dúvida), religiosamente, os comentários semanais de Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes, José Sócrates, José Maria Carrilho, Pacheco Pereira, entre tantos outros. Curiosamente, estes que referi são comentadores políticos de política.

3. Vale a pena recordar algumas passagens do texto do advogado António Marinho, publicado no Público de sexta-feira.
«Num Estado de direito, a posição de um juiz, seja qual for a fase processual em que intervenha, deve ser sempre a de manter uma rigorosa equidistância entre os interesses punitivos do Estado patrocinados pelo Ministério Público e os direitos fundamentais do cidadão arguido patrocinado por advogado da sua confiança.»
«Um juiz de direito nunca deve invocar as vítimas de um crime para fundamentar decisões proferidas em processo penal. A um juiz só é lícito invocar (além dos factos resultantes do contraditório) o direito, enquanto condensação da lei, da ética, da equidade, dos valores superiores do Estado democrático e da dignidade do ser humano. A invocação das vítimas serve para justificar a justiça sumária, geralmente ditada pelos sentimentos irracionais das turbas, e não para fundamentar as decisões no processo penas de um Estado de direito.»

HR

Lisboa-Açores-Porto-Colónia / desabafo em 3 fusos horários 

1. Tenho dificuldades em compreender as pessoas que odeiam blogs. Porque há quem odeie blogs. Vem-lhe das vísceras e não pode deixar de expressá-lo. Com franqueza, num espaço electrónico onde existem sites fascistas, nazis, racistas, sites pedófilos, seitas, onde se pode aprender a fazer uma bomba, onde se pode encontrar satanismo, bizarrias sexuais, fazer o download de um homicídio real, sinceramente custa-me entender o ódio aos blogs.

2. Hoje em dia, curioso, falo mais de blogs com quem os odeia do que com bloggers. Certo, é óbvio que houve um período em que o tema dominava conversas. Passou, como passa tudo o que se faz hábito. Mas agora não. Há certas pessoas que, quando as ouço dizer a palavra "blog", soa-me a insulto. Como se as incomodasse por ter o meu. Lógico que existem pessoas com uma perspectiva irónica sobre o assunto, algumas até acompanham regularmente o que se vai postando por aí. Mas para outras, no mínimo, é como se lhes tivéssemos roubado o lugar de estacionamento.

3. Há pouco mais de 4 meses que entrei nisto. Tenho na cabeça uma ideia precisa do tempo que tenciono ficar por cá. Uma coisa é certa: nesse tempo nunca deixei de cumprir um prazo no trabalho, nunca deixei de jantar com amigos e sair à noite, nunca anulei um compromisso. Como? Passei a ver menos uma hora de televisão por dia. Na verdade, até conheci pessoas novas e consegui algumas oportunidades, em parte, devido ao DC.

4. Gosto disto por várias razões: porque existem, de facto, pessoas que queremos ler diariamente; porque movimenta milhares de pessoas, milhares num espaço sem dono, em que o João Silva está no mesmo grau que o Pacheco Pereira; porque é feito por puro amor à camisola (valha-nos Deus!) e por uma razão bem superior.

5. Porque o DC é formado por um grupo de pessoas que nunca poderia estar junta noutro projecto qualquer. Em que outro mundo se poderiam encontrar 12 ou 13 pessoas à volta de uma ideia que não lhes pode dar um euro sequer de recompensa?

6. Gosto de ver o Hugo, meu amigo desde o paleolítico superior, a postar uma hora mais cedo, desde o seu escritório de advogados na Horta; gosto de esperar pelos mails com os posts do Luís Duarte e da Clara, ambos entre os afazeres de jurista e os recitais de piano; gosto de imaginar o Tiago, a editar de sua casa, depois de dar banho à Beatriz, com o talento voluptuoso que tem; admiro a verve do meu irmão, dedicando-se a arrasar o país em crónicas de um sarcasmo fortíssimo, inversamente proporcional à tranquilidade com que enfrenta a vida; imagino o Nuno, em casa, a perguntar à Mónica a opinião sobre o post, lendo e revendo, sempre à procura da perfeição; admiro a aventura on the road do Miguel, escrevendo nos intervalos de uma viagem sem guia ou planos que lhe acentua a qualidade e o estilo; recebo um e-mail do Bernardo, a anunciar o regresso e a abraçar a malta; comovo-me com os textos do Ricardo, umas horas à frente de nós, desde Colónia, com um humor delicado e uma ternura difícil de encontrar num livro português; espero, ansioso, o brilhantismo habitual do Luís e imagino como será o Ricardo Sampaio, sempre cirúrgico nos textos, o único casadoiro que nunca vi! E pronto, acabo de me pôr a jeito para ouvir umas piadas. Mas, enfim, num blog em que as siglas se sucedem, sem interrupção, desde o primeiro dia, deixem-me achar que tem o seu quê de fascinante o facto de nem todas as pessoas se conhecerem.

7. Há algumas pessoas que me escrevem. Percebi, e não era necessário um cérebro brilhante para isso, que os leitores constroem a sua própria imagem à volta de um nome. E como tudo se passa no mundo perfeito da imaginação, essa imagem é utópica. Escrevo num tom confessional, intimista sim, mas desenganem-se aqueles que pensam conhecer a minha vida ao pormenor. Nunca tive um diário na vida e não ia começar agora. Gosto de pensar que quem me lê - factor comum ao nosso blog - tanto pode sorrir como se pode emocionar. Julgo, aliás, que nos afirmamos pela negação de certas bases da blogoesfera portuguesa. A saber: o posicionamento ideológico, o debate político, a hetero-citação constante e as querelas para fazer subir o site-meter. Não é preciso andar na alcateia para ser um lobo.
De resto, se escrevo de paixões, podem ter a certeza que são histórias passadas. Se assumo o nome próprio e um possessivo antes da palavra "vida", creiam bem que utilizo apenas o que considero fazer parte de uma reserva partilhável, susceptível de merecer segundas leituras e chegar às memórias afectivas de outros. Admito, contudo, já ter falhado ou vir a falhar. É mais do que certo. Até porque não sigo influências ou estilos. Ando à procura do meu. O que me leva à última razão para andar nesta aventura. Estou a aprender a pensar e escrever melhor.LFB

Octavio Cesar, poeta mexicano 

Octavio, que ainda não visitou esta casa, é um amigo da mesma. Ele, a sua mulher Jeanne Karen, o amigo Roman Luján, e o editor Jorge Herrera são amigos mexicanos. Poetas, todos. Uns pela escrita, o Jorge pela vida, bem apoiado pela mulher Socorro e pelo filho Rodrigo. Estivemos juntos em Lisboa e em várias cidades mexicanas. Não nos vemos há mais de um ano mas Octavio Cesar fez chegar o seu último livro de poesia, usando o que resta de romantismo nos correios. Sim, que um attachment não se pode tocar. O livro chama-se ÁREAS DE ESPARCIMIENTO e, sendo inédito em Portugal, é natural que volte a ele de vez em quando. Para Octavio e todos os outros, um grande abraço. Uma vez que hei-de explicar-vos por mail o que é isto do DC e vocês virão cá, desde onde estão, a 10.000 kms de distância, para - tal como fazem no e-mail - carinhosamente traduzir o nosso português para o vosso espanhol cantado, com o mesmo ritmo com que falamos por aqui. LFB

CEREMONIA DE CLAUSURA

No debes abrir las gavetas cerradas...
Pedro Mexia


Elige una puerta.
La que menos llame tu atención abrir.
Aquella que sólo en apariencia guarde
los secretos más inocuos.

Sin mirar el picaporte,
sin tratar de adivinar
sus saldos de sombra y luz,
sin mínimo deseo,
empuja con desdén suicida
y al sesgo inquiere lo que oculta.

Intimidad sin roce,
repugnancia súbita
o assombro ante el umbral desnudo
nada importan,
porque tú importas nada.

Ni el sonido de tus pasos,
ni la densidad de tu mirar,
poseen significado alguno
en esta lengua
más antigua que la voz.

Al fondo de esa dermis
cuya sangre es el silencio,
quieto en la comodidad del polvo,
de hombros relajado,
sólo eres un frasco de saliva
donde flotan

calladas

tus palabras.

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